«Somos chamados ao trabalho desde a nossa criação. Ajudar "pessoas em situação de pobreza", deve ser sempre um remédio provisório. O verdadeiro objectivo deveria ser sempre consentir-lhes uma vida digna através do trabalho» Laudato Si: página 88.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Vida de Ozanam (V)

Vida de Ozanam (V)

Cresce a Conferência de Caridade

Na Conferência de Caridade, pretendiam os fundadores mantê-la restrita entre eles, unidos pela amizade para a caridade. A admissão de estranhos poderia esfriar o ambiente e destruir a intimidade reinante. No entanto, havia fora alguns colegas vivendo a mesma fé, que podiam ajudar sendo ajudados. Entraram assim novos confrades -La Noue, Le Prevost, Hommais, Pessoneaux, Chaurand -subindo a 15 no verão e a 25 no outono de 1833, sendo 18 deles propostos por Ozanam.

A Sociedade alargava seus serviços aos pobres, atendidos tanto na miséria do sustento como na da alma. Semanalmente realizavam os confrades suas visitas, fazendo-se notados a ponto de organizações do Governo solicitarem-lhes a colaboração, assistindo jovens delinquentes, prisioneiros; a própria Irmã Rosalie ia procurá-los para ensinar operários a escrever. Alegrava-os mais o apoio do Padre Fandet, seu vigário, a quem comunicavam seus trabalhos e que lhes trouxe os aplausos do Arcebispo.

Nasce a Sociedade de São Vicente de Paulo sob a protecção da Virgem Maria

Desde a fundação, a Conferência se colocara sob o patrocínio de São Vicente de Paulo, santo francês muito popular, chamado mesmo de “Pai da Pátria” Em sessão de 4 de Fevereiro de 1834, Le Prevost lembrou que adoptassem não só o patrocínio mas o título de São Vicente de Paulo para a Sociedade, com sua invocação nas orações oficiais, e solene celebração de sua festa. A proposta mereceu aprovação sob aplausos. Estava baptizada a Sociedade.

Ozanam, grande devoto da Mãe de Deus, concordando com o patrocínio de São Vicente, sugeriu, recebendo aprovação, que fosse a obra colocada sob a protecção da Virgem Maria, acrescentando-se a Ave-Maria às orações e comemorando-se uma de suas festas. Aceitaram a da Imaculada Conceição, adoptando a Sociedade duas festas no ano. A decisão é tanto mais para destacar, pois somente em 1854 foi proclamado pela Igreja o dogma da Imaculada Conceição.

Bacharel em Direito

Após submeter-se aos exames para licenciamento em. Direito, Ozanam recebeu o Diploma de Bacharel, em 15 de Março de 1834. Dominado por justificada satisfação, apressa-se em transmitir o acontecimento à sua mãe, com a exclamação em carta: “Eu, Bacharel!” E acrescenta: “A Senhora já pensou nisso?” Mas acrescentava em seguida: “O título de Bacharel não é, porém, grande coisa”. Isso porque precisava conquistar ainda o doutorado em Direito, profissão que não lhe agradava.

O Bacharel Frederico Ozanam chegou a Lião para gozar as férias com a família, no feliz: ambiente doméstico, desfrutando o calor da amizade paterna, as delícias do aconchego materno, os conselhos do irmão mais velho e a satisfação do casulo. Não esquecia Paris, no entanto, sobretudo os camaradas vicentinos, a bonomia de Bailly, e as sessões da Conferência. Foi com alegria que recebeu consentimento do pai para retornar a Paris e preparar a tese para o Doutorado.

Divisão da primeira Conferência de Caridade

No dia 23 de Abril de 1834 Ozanam atingia a maioridade. Encara os 21 anos com toda a seriedade, voltando seus pensamentos para Deus e para a morte -”esses dois companheiros que sempre nos acompanham”. Começava a obrigação de jejuar. Continuava a enfrentar as tentações do mundo e ainda mais as maldades dos colegas que o tachavam de carola. Via em tudo provações que deveria dominar para ser mais útil ao serviço de Deus.

Em Novembro de 1834 chega Ozanam a Paris. Iria coroar com grau superior seus estudos jurídicos. Teria que enfrentar dura luta com estudos e trabalhos vicentinos, sem esquecer a Literatura. A divisão da Conferência, já tão numerosa, era, a seu ver, uma questão de sobrevivência daquela obra. Levar o Pe. Lacordaire ao púlpito de Notre Dame para instalar uma apologética consoante com a época, era outra meta a atingir. Ozanam enfrentaria tais obstáculos com pertinácia.

O número de confrades aumentava tanto que, em Dezembro de 1834, era 100. Isto criava sérios inconvenientes, entre outros, o alongamento das sessões com os relatórios das visitas aos assistidos. Ozanam vinha insistindo, desde abril, na divisão da Conferência, sendo repelido por alguns que argumentavam a impossibilidade de Bailly presidir mais de uma sessão, o que faria perigar a novel sociedade. Na volta das férias, retomou o problema com decisão.

Como persistisse a oposição de alguns, inclusive de La Taillandier, que chorava ao pensar no caso, Bailly designou em 31 de Dezembro uma comissão para tratar do assunto defendido por Ozanam. As divergências iam promovendo o tumulto, quando soou meia-noite. Bailly pediu que se abraçassem no novo ano, e confiassem a ele a decisão final. Todos concordaram mas só a 24 de Fevereiro de 1835 Bailly procedeu à divisão da Conferência em duas secções.

Admitida a divisão, começaram a surgir novas Conferências, todas, porém, sob a presidência de Bailly, “o Pai Bailly”, guarda das tradições, mas tendo Ozanam como a alma daquela dispersão, acompanhando todo o movimento. Ele tinha em vista a santificação pessoal dos confrades e especialmente a preservação moral e religiosa da juventude académica. Nesse sentido. pensava na melhor forma de levar Deus à inteligência e ao coração dos moços. A solução seria o Padre Lacordaire.

Arcebispo finalmente permite a realização de conferências em Notre Dame

As ocupações dos jovens estudantes na Conferência não os impediam de cuidar dos meios para formação cristã dos intelectuais, especialmente no combate ao ensino ateu na Sorbona. Voltaram, então, a insistir junto ao Arcebispo pela realização de conferências em Notre Dame, a cargo de Lacordaire. Embora preferindo outros, D. Quélen designou, afinal, este sacerdote. Assim, a 8 de março de 1835, Lacordaire obtinha retumbante êxito, atraindo uma grande multidão desejosa de conhecer as verdade eternas.

A insistência de Ozanam pela escolha de Lacordaire fundamentava-se nos insucessos de oradores precedentes naquele púlpito. E o Arcebispo, que tanto relutara ante seus apelos, vibrou de entusiasmo vendo o templo inteiramente lotado pela fina flor da intelectualidade francesa, chamando o ilustre sacerdote “consolação e alegria de seu coração” Ozanam convidava colegas e professores, e, para lhes garantir lugares, chegava duas horas antes na igreja, a fim de reservá-los, agradando assim aos retraídos.
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