«Somos chamados ao trabalho desde a nossa criação. Ajudar "pessoas em situação de pobreza", deve ser sempre um remédio provisório. O verdadeiro objectivo deveria ser sempre consentir-lhes uma vida digna através do trabalho» Laudato Si: página 88.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Vida de Ozanam (XVI)

A morte de Antônio Frederico Ozanam

Verdadeira procissão de amigos, confrades e humildes camponeses acompanhou-o até Livorno, onde embarcou. Por onde passava recebia saudações que agradecia com triste sorriso. Viajou no camarote, alegrando-se por ver as praias da Provença. Em Marselha, recebido pela sogra e família da esposa, disse: “Agora, que restituo Amélia a boas mãos, entrego-me a Deus, que fará de mim o que quiser”. Chegando em casa, deitou-se para não mais se levantar.

A notícia de sua chegada espalhou-se velozmente e logo a casa tornou-se centro de peregrinação: sacerdotes, religiosos, confrades vicentinos procuravam contemplá-lo pela última vez, o que se tornava impossível, dado seu doloroso estado. Só os membros da família cercavam seu leito. Quase insensível ele parecia não sofrer muito. Uma calma de morte sucedeu à anterior agitação. Era a calma de uma tarde serena que antecede às noites felizes.

A morte se avizinhava. Pediu os últimos sacramentos. Ao Padre afirmou: “Por que temeria a Deus se o amo tanto?” Amanheceu o dia 8 de Setembro – Natividade de Nossa Senhora – no quarto, a esposa, irmãos e parentes. No quarto vizinho, vicentinos, ajoelhados, rezavam. Ele dormitava tranquilamente. De repente, abriu os olhos, como fitando alguém, levantou as mãos e gritou: “MEU DEUS, MEU DEUS, TENDE PIEDADE DE MIM!” Foram suas últimas palavras. Entrou em agonia.

Eram 8 horas da noite quando morria António Frederico Ozanam, inspirador, fundador e propagador incansável da Sociedade de São Vicente de Paulo; valente defensor da Igreja de Cristo, dos humildes e injustiçados; amigo inseparável da verdade; sociólogo de visão profética que advertiu com desassombro os governantes e os poderosos contra os perigos da miséria e da opressão; aquele que consagrou a vida ao sublime ideal do amor ao próximo por amor a Deus.

Morto Ozanam, três cidades reclamavam a honra de servir-lhe de derradeira morada: Marselha, onde falecera; Lião, onde morara com sua família e Paris, onde desenvolvem seu apostolado. Em Lião havia o jazigo da família. Mas Amélia tornou claro que ele, em vida, expressara o desejo de sepultar-se em Paris, no seio da juventude que tanto amara e pela qual dera a vida. O Padre Noirot deu-lhe razão. E Paris conseguiu a preferência.


O sepultamento de Ozanam

Devendo o corpo ser embalsamado para suportar a longa viagem até Paris, pediu a família aos médicos fosse constatada a causa da doença que o matou, sendo verificado que o rim direito estava completamente destruído por motivo de lenta inflamação. Mas, que motivou essa inflamação? Teria sido câncer, doença então pouco estudada e conhecida? No tempo não havia laboratórios especializado e muito menos raio X. Assim, não se ficou sabendo de que morreu Ozanam.

Levado a Paris, o corpo foi depositado na igreja de S. Sulpício, perante grande concorrência de estudantes, amigos, professores e alunos da Sorbona, operários e centenas de vicentinos. Todos manifestavam dor profunda. Celebrada Missa, colocaram o féretro numa capela subterrânea da igreja, em carácter provisório. Pretendiam levá-lo para o cemitério de Montparnasse, mas o Padre Lacordaire conseguiu transladá-lo para a igreja S. José de Carmes, da sua Ordem.

Havia lei proibindo sepultamento nas igrejas. Amélia, atendendo ao desejo de Ozanam, que queria ser enterrado numa igreja, conseguiu com o Ministro dos cultos, amigo desde a juventude, permissão para que o corpo lá ficasse, como se ele não soubesse. Amélia não pôde assistir à inumação pois era dentro da clausura vedada às mulheres. Mais tarde, obteve de Pio IX autorização para chegar até o túmulo passando pelo jardim do convento.

Extinta a lei proibindo o sepultamento nas igrejas, Amélia deu ao túmulo a forma de catacumba romana, com inscrição em latim mencionando trabalhos e méritos.de Ozanam, e, por último, Lacordaire apôs as palavras do Anjo às Santas Mulheres: “POR QUE BUSCA.S ENTRE OS MORTOS AQUELE QUE ESTÁ VIVO?” No centenário de Ozanam, os vicentinos do mundo inteiro construíram na cripta um mausoléu de mármore com um altar defronte para celebração de missas.

Desde a hora do seu sepultamento, constantes hão sido as manifestações exultantes e serenas pela sua imortalidade no céu e na terra. O Reitor da Faculdade de Letras de Paris repetia aos presentes as palavras de Dante: “Não lhe choreis a morte, pois é a imortalidade que começa”. Para Léonce Curnier, “a auréola da santidade que o cercava, quando vivo, nada perdeu do seu brilho”. O Jesuíta Villefort sustentava estar ele na posse da glória eterna.

A glorificação de Ozanam

Não foram somente os homens de letras, professores universitários ou sacerdotes eminentes que destacaram a grandeza de Ozanam. O Papa Pio IX, que o conheceu de perto, exaltava-lhe a figura de verdadeiro cavaleiro de Cristo. Leão XIII apontou-o como modelo para seus concidadãos e sobretudo modelo de religião e de boas obras. Pio X viu nele um dos mais distinguidos campeões da ciência cristã. Qual o mortal que já recebeu tal consagração?

A verdadeira glorificação de Ozanam fundamenta-se na Sociedade de São Vicente de Paulo, “honra e glória dos tempos atuais e humanamente inexplicável, porque é realmente obra de Deus” (Cardeal Vanutelli). Bento XV aponta-a como extraordinária efusão do apostolado e ação social, e Pio X, que a incluiu nas intenções do Apostolado da Oração, afirmava que ficaria muito feliz se em cada paróquia do mundo existisse uma Conferência da Sociedade de São Vicente de Paulo.

Com a morte, muitas glórias humanas, muitos nomes considerados imortais, caem depressa no esquecimento. Mas, para Ozanam bem se pode aplicar a exclamação de S. Paulo: “Ó morte, onde está a tua vitória?” Desde o momento em que o seu corpo foi recebido carinhosamente pela irmã terra, começaram a reboar no silêncio do seu túmulo as palavras do anjo: “Não deve ser procurado entre os mortos aquele que está vivo”.

Na verdade, Ozanam continua sempre vivo. A semente lançada em Paris,em 1833 tornou-se árvore que estendeu seus galhos por toda a terra, “dando sombra e consolo aos que padecem”, Como disse o Cardeal Verdier, a Sociedade de São Vicente de Paulo abriu para a humanidade uma era nova com seu aposto lado leigo, de formas numerosas e múltiplas, que será hoje e será amanhã a mais bela esperança da Igreja em todo o universo. Obra de assistência mas também de santidade.


A beatificação de Ozanam

Pela sua vida intemerata, pela sua acção apostólica, pelo seu devotamento à causa da Igreja, Ozanam pode ser considerado um Santo de nossos dias. Desde 1925 a causa de sua beatificação foi introduzida na Santa Sé. E desde então os confrades vicentinos do mundo inteiro recitaram a oração composta pelo Cardeal Amet, implorando a Deus possa ele merecer as honras dos altares.

E ouvidas as preces, a sua Santidade o Papa João Paulo II, testemunhou com uma bela homilia, durante a missa de beatificação de António Frederico Ozanam no dia 22 de agosto de 1997, a importância da Sociedade de São Vicente de Paulo e de seu fundador.

Desde então, os vicentinos de todo o mundo esperam confiantemente a canonização do Beato António Frederico Ozanam, cuja protecção evidente à Sociedade de São Vicente de Paulo, a tem feito sobreviver, de modo inexplicável pelos meios temporais mas compreensível pelo seu valimento junto à Divina Providência.

Que a vida luminosa de Ozanam, aqui retratada de modo resumido, sirva, a todos os que a lerem, de estímulo aos que vivem o ideal da caridade evangélica e de atração aos que dele estão afastados.

FIM
by Javier F. Chento - http://www.vicentinos.info/vida-de-ozanam-i/



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