«Somos chamados ao trabalho desde a nossa criação. Ajudar "pessoas em situação de pobreza", deve ser sempre um remédio provisório. O verdadeiro objectivo deveria ser sempre consentir-lhes uma vida digna através do trabalho» Laudato Si: página 88.

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

A família vicentina comprometida.

Ao longo destes tres anos de mandato, em que a Família Vicentina do Conselho de Zona da Vigararia Gaia Norte escolheram-me com o seu voto, não para dirigir o conselho mas para colaborar com as conferências, tem sido uma experiência de bom agrado com algum trabalho pelo facto ver, que as conferencias tem sabido dinamizar e desenvolver as suas conferências, na paróquia onde estão inseridos, com o seu compromisso na Missão na Caridade. Não poderei dizer se foi muito bom ou muito mau pois esta experiência tem sido única como vicentino e como até agora não tenho recebido queixas ou reclamações diria que tem decorrido bem. Há coisas que eu tenho a noção de correram menos bem, contra a minha vontade própria; as visitas às conferências, a fraca participações dos vicentinos aos plenários do conselho bimensal. Talvez a culpa seja minha pela minha falta de discernimento em saber escolher a melhor forma e vontades. 

Os mandatos para presidir por força de alteração à Regra, passou de tres anos para quatro, daí o meu mandato ter sido prolongado até Abril de 2017. Mas a questão não é este paragrafo atrás, tudo a seu tempo será resolvido com eleições, o que eu queria focar é como tenho sentido por parte de algumas conferências uma certa apatia com a falta de presenças nos plenários e, existe caso de pelo menos duas conferencias que desde a minha eleição nunca deram o prazer da sua presença, durante estes quase tres anos. Outras vieram uma vez, na maior parte só na entrega dos quadros estatísticos. 

Entendo que a melhor forma de fazer um bocado de pedagogia formativa e espiritualidade é aconselhar a consulta ao último Boletim do Conselho "Com-partilha" sobre o tema «A conferência», enviado por correio electrónico, que deixei como reflexão no fim ano 2015. 
Não entendo a Família Vicentina como se tem prestado na missão de uma certa forma ao alheamento; na participação, ao saberes, às informações, às leituras, aos convívios, à participação nas reuniões do conselho local próprio de partilha e saberes dando também com os seus ensinamentos aos outros as suas experiências que delas todos poderão aprender. 

A Família Vicentina só poderá ser verdadeiramente família se estiver informada, participativa na partilha entre os seus confrades nas reuniões dando também se recolhe. 
Hoje o vicentino, na sua paróquia, no seu local de apostolado, por força maior na missão vicentina, substitui um pároco, ele é o vicentino-missionário-sacerdote que leva a casa das famílias a palavra de Jesus Cristo. 
Hoje leva com a sua vontade as palavras de Misericórdia, dos ensinamentos da concórdia, do amor, do diálogo, da tolerância. Ontem e hoje, o Vicentino coloca os seus talentos, com mais "formação espiritual" ao serviço de Deus no homem. O vicentino sempre pôs na sua missão e encarou-a como meta: Que o "Homem deve ser Recolocado no Centro". É essa meta que o vicentino terá que ter como compromisso como missionário no anuncio da vida de Jesus Cristo de formas simples. O Vicentino é aquele que se assume. 
Termino com uma frase escolhida pelo conselho, por altura do Congresso em 2015:




quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Natal 2014 ou de hoje?

FELIZ NATAL
O Natal costuma ser sempre uma ruidosa festa; entretanto se faz necessário o silêncio, para que se consiga ouvir a voz do Amor.
Natal é você, quando se dispõe, todos os dias, a renascer e deixar que Deus penetre em sua alma.
O pinheiro de Natal é você, quando com sua força, resiste aos ventos e dificuldades da vida.
Você é a decoração de Natal, quando suas virtudes são cores que enfeitam sua vida.
Você é o sino de Natal, quando chama, congrega, reúne.
A luz de Natal é você quando com uma vida de bondade, paciência, alegria e generosidade consegue ser luz a iluminar o caminho dos outros.
Você é o anjo do Natal quando consegue entoar e cantar sua mensagem de paz, justiça e de amor.
A estrela-guia do Natal é você, quando consegue levar alguém, ao encontro do Senhor.
Você será os Reis Magos quando conseguir dar, de presente, o melhor de si, indistintamente a todos.
A música de Natal é você, quando consegue também sua harmonia interior.
O presente de Natal é você, quando consegue comportar-se como verdadeiro amigo e irmão de qualquer ser humano.
O cartão de Natal é você, quando a bondade está escrita no gesto de amor, de suas mãos.
Você será os “votos de Feliz Natal” quando perdoar, restabelecendo de novo, a paz, mesmo a custo de seu próprio sacrifício.
A ceia de Natal é você, quando sacia de pão e esperança, qualquer carente ao seu lado.
Você é a noite de Natal quando consciente, humilde, longe de ruídos e de grandes celebrações, em silêncio recebe o Salvador do Mundo.
Um muito Feliz Natal a todos que procuram assemelhar-se com esse Natal.
Papa Francisco

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Reposição do Fundo Social Diocesano

Caros Presidentes e todos vicentinos.
O Conselho Central do Porto fez chegar ao Conselho de Zona a informação como podem e devem fazer para os pedidos de ajudas as famílias mais carenciadas podem obter os apoios.
Devem informar a todos os vicentinos nas vossas conferencias para que todos tenham conhecimento.

Aceda aqui clicando no link a seguir:  Fundo Social Diocesano

OBS: imprimam esta informação para que não haja vicentinos que digam não terem conhecimento.
Saudações
Fernando Teixeira


quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Assembleias Celebrativas dias 05 e 08 Dezembro 2015

Para Todos Vicentinos do Conselho de Zona Gaia Norte.
PRIMEIRO: - A Assembleia Diocesana de Movimentos e Obras presidida pelo Senhor D. António Francisco, Bispo do Porto, realiza-se no «Dia 05 de Dezembro 2015» terminando com a Eucaristia Dominical.
e tem como ponto principal a preparação a preparação para o arranque do Ano de Misericórdia.
Horário é das 09,30 horas até às 17 horas sensivelmente, com a Eucaristia Dominical.
Clique neste link; Programa e inscrição Deve fazer a sua inscrição o seu custo com almoço é de 10 euros.
Devem enviar as inscrições mais rápido possível para: Casa Diocesana de Vilar - Rua Arcediago Van Zeller, 50 4050-621 Porto.

SEGUNDO: - Assembleia Imaculada Conceição Casa de Vilar, «Dia 08 de Dezembro 2015»
Clique neste link; Programa dia 8 Dezembro , Horário 14,30 até às 17,30 horas.
Devem proceder à inscrição para a Casa de Vilar.Casa Diocesana de Vilar - Rua Arcediago Van Zeller, 50 4050-621 Porto.

Se optarem podem enviar para o Conselho de Zona que encaminhará as inscrições.

Na Alegria do Evangelho que nos une e motiva.


terça-feira, 20 de outubro de 2015

Eventos & Informações

Aproveitando os meios de multimédia que estão ao nosso dispor, partilho alguns  
"Eventos & Informações" 


"Assembleia Celebrativa dos 156.ºSSVP"

No dia 25 de Outubro 2015, Assembleia Celebrativa dos 156.º aniversário da Sociedade São Vicente de Paulo, no Centro Paroquial de São Cristóvão de Mafamude, pelas 15 horas, à Rua São Cristóvão de Mafamude-Gaia,conforme circular entregue, via pessoal ou correio electrónico. No dia será entregue a cada Conferência participante, um Certificado de Participação. No Final da Celebração Eucaristia haverá um pequeno lanche...Não Faltem!
Clic aqui para, Consulte o Programa .

Organização dos Conselhos de Gaia Norte e Gaia Sul.




"Noite Outonal & Confraternização" 
Dia destinado ao C.Z.G.Norte

Dia 7 de Novembro 2015, Casa Ozanam. 19,30 horas com jantar e Fados. Custos: 25€ por pessoa. Arranje um familiar e um amigo.

Apareça se poder...





              
                                            "Ativar Competências de Empregabilidade". 


Projeto Click ( click aqui ), é desenvolvido através de um protocolo existente entre a EAPN Portugal e o IEFP que trabalha as áreas da empregabilidade de públicos vulneráveis e da responsabilidade social das empresas.
É um projeto de mediação entre oferta e procura de emprego, desenvolvendo um instrumento de complementaridade aos serviços de emprego públicos, através da dinamização de sessões que promovam o aprofundamento e desenvolvimento das soft skills de públicos desempregados vulneráveis e na sensibilização e capacitação para a responsabilidade social de potenciais entidades empregadoras.
Este projeto não se limita a uma ligação direta entre o que o mercado de trabalho procura e o que o potencial colaborador tem para oferecer. Com ele aprofundamos e levamos mais longe esta ligação, construindo-a de forma conjunta, num processo de adaptação de ambas as partes.




Leia e «Com-partilhe» com os jovens e menos jovens da sua paroquia ou conferência. Programa

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Faleceu em Lisboa o Vicentino Fernando Reis

A pesquisar a página da Sociedade São Vicente de Paulo em informações, é dado a notícia pelo Presidente Conselho Nacional que o nosso querido e bem conhecido Fernando Reis tinha falecido no dia 12 de Agosto de 2015.
As férias dá para descansar mas também deu para noticiar a notícia que, da minha parte quase um mês passado viemos a saber.



Transcrevo a noticia: com data de 12-08-2015 

É com muito pesar e tristeza, que vos comunico que o nosso amigo Vicentino Fernando Reis, partiu hoje para junto do Pai.


Estará em câmara ardente na Igreja de Nossa Senhora do Amparo em Benfica, a partir das 17 horas de amanhã dia 12 e será celebrada a Eucaristia de corpo presente, pelas 10,30 horas do dia 13, quinta feira, seguindo o funeral para o cemitério de Benfica.

O Conselho de Zona de Gaia Norte solidariza-se com a sua família, é desejo de toda a Família do Conselho de Zona desejando os nossos sentidos pêsames à família com um «PAZ & BEM

Modelos Família vicentina Felisberto Vrau e Camilo Féron-Vrau


FELISBERTO VRAU - (1829 - 1905) 
e
CAMILO FÉRON-VRAU - (1831 - 1908)
"Os Santos de Lille"

Não é possível separar um do outro, estes dois companheiros de toda a vida: companheiros de estudos desde a infância, unidos por laços de parentesco no casamento de Camilo Féron com a irmã de Felisberto Vrau, associados numa mesma e grande empresa industrial; e sobretudo associados na mais arrojada e persistente obra social e de acção católica - mas que acção! - desenvolvida não só em Lille, como no norte de França, como até em toda a França, durante o espaço de meio século. Obra formidável, absolutamente revolucionária pela largueza de vistas, pelo arrojo com que dois simples particulares assumiram responsabilidades que fariam hesitar um Município ou até mesmo um Estado; formidável ainda pelo intenso fogo de caridade que a ilumina!
São bem os santos do nosso tempo, que viveram a nossa vida, sujeitos às mesmas tentações; que souberam fazer uma fortuna; e que ainda melhor a souberam gastar em obras verdadeiramente extraordinárias de carácter religioso ou social, num dom total de si mesmos pelos seus irmãos, outros Cristos.
Felisberto Vrau era filho dum industrial de fiação, de Lille; rapaz forte e cheio de audácia, ligou-se de amizade no colégio com Camilo Féron, que pertencia a uma família da intimidade da sua. Em contraste com Felisberto, Camilo era um tímido, bondoso e delicado, que ao seu amigo ficou devendo o valor da sua protecção, paga aliás no constante amparo moral e bom exemplo que dispensou a Felisberto, na grave crise religiosa e de costumes que o trouxe transviado durante anos, em procura da verdade, através de correntes filosóficas várias, as quais não foram capazes de entravar o dom natural, que o levava a desejar ganhar muito dinheiro, para aliviar a humanidade dos seus sofrimentos.
Convertido, finalmente, aos 24 anos, dá-se todo a Deus e após um primeiro insucesso na vida comercial, quer tomar sobre si a sua parte no sofrimento. Afervora-se mais na sua devoção à Sagrada Eucaristia e, como fonte inspiradora, tenta a Adoração nocturna.
É então que, ligado à indústria de seu pai, consegue, à custa da sua prodigiosa actividade e inteligência prática, libertá-la da vida sempre periclitante que tem atravessado, entrando em franca prosperidade.
Mas com o declínio do pai, vê-se obrigado a procurar um colaborador com quem reparta o ingente trabalho, sem prejuízo do tempo a consagrar à oração e às obras, para as quais aquele serve de pretexto. Esse colaborador não pode deixar de ser seu cunhado Camilo, que como médico conquistara já uma sólida posição e tem diante de si um futuro brilhante, como indigitado professor de clínica médica e futuro Director da Escola de Medicina, o que tudo sacrifica, para tomar a seu cargo a parte comercial e direcção do pessoal da fábrica. Pela morte do sogro, torna-se associado da organização Vrau, e o nome Vrau passa a ligar-se por um traço de união ao de Féron.
Desde há muito, a casa aplicava um terço dos lucros em boas obras, que revertiam principalmente em favor do pessoal, mas a proporção vai crescendo e depois já não se acha suficiente a acção individual. Sente-se a necessidade de criar instituições.
É o tempo do Conde de Mun e de La Tour du Pin, o momento dos Círculos Católicos.
Intensifica-se então a vida cristã naquela colmeia, onde há o maior rigor na escolha do pessoal, e por tal forma aumenta que, de 1871 a 1972, se contam nada menos de 52 vocações religiosas!
Forma-se a Corporação Cristã de São Nicolau, que agrupa 1 300 operários, com as suas numerosas caixas, que provêm a todas as necessidades: caixa económica de empréstimos, socorros mútuos, assistência a doentes, assistência maternal, socorros à invalidez e à velhice, obra dos funerais, etc., etc. Todas estas obras se alimentam de quotização mínima dos beneficiários, decuplicada pela inesgotável contribuição patronal.
Léon Harmel preconiza então a associação dos patrões cristãos; em Lille e mais cidades industriais do norte, respondem 42 industriais, que entram decididamente no estudo dos problemas do trabalho: trabalho de menores e de mulheres, limitação do horário de trabalho, interdição do trabalho nocturno, descanso dominical, etc.. São bem os precursores da actual legislação do trabalho!
O movimento cristão é de tal ordem que, quando em 1899 se organizou uma peregrinação a Roma, nela se incorporaram 600 operários do norte, acompanhados pelos seus patrões.
É depois atacado o problema das habitações operárias, construindo casas económicas modelares, e vem a seguir o problema da formação de bom pessoal cristão de oficinas, para o que falta uma escola de artes e ofícios. Aparece um terreno de 13 000 metro quadrados à venda, e aparece também um anónimo (...) que o compra. Forma-se uma sociedade. As paredes da escola levantam-se; em breve se abrem as portas e cresce o número de alunos, apesar da concorrência da escola oficial, logo a seguir criada.
A participação de Féron-Vrau na fundação pode ser avaliada por esta sua palavra, que data da mesma época: "Aos meus olhos, o dinheiro tem um único valor, o de poder ser dado".
Mas não ficam por aqui: vem, mais a ideia da fundação da Universidade Católica de Lille. Na previsão da publicação da lei da liberdade de ensino, adquirem o palácio da prefeitura, recrutam professores, conseguem subscrições de verbas colossais e dão sempre o exemplo, de tal maneira que num escrito de Camilo se lê: " Os sacrifícios foram largos", e quando lhos agradeciam, Felisberto dizia: "Nós é que deveríamos agradecer", o que se pode ainda confrontar com a pergunta de Camilo: "Porventura este dinheiro é meu?"
Em 1877 inaugura-se solenemente a Universidade, com cinco Faculdades: Teologia, Direito, Letras, Medicina e Ciências. Toda esta obra é impulsionada pelos nossos extraordinários gigantes e em grande parte por eles custeada. Mas vejamos ainda a extensão das obras anexas à Faculdade de Medicina, especialmente trabalhada por Camilo, que dela foi o verdadeiro Mecenas: começa por ser preciso umhospital; depois vem uma casa de saúde, maternidade, asilo para incuráveis, hospital de crianças, etc., fundações estas destinadas, todas elas, a entronizar a Religião na Medicina.
Há ainda a registar, e isto especialmente da parte de Felisberto Vrau, a iniciativa da santificação de Lille, que começou pela formação duma Associação de Orações com intenção fixada, interessando mais de 20 000 fogos. Mas fazia-se sentir a falta de igrejas na cidade, cuja área e população tinham aumentado consideravelmente. Vrau toma um mapa, marca os pontos, dobra-o e inscreve nas costas: "Lille em vinte paróquias".
Funda uma sociedade civil, reúne fundos e começam a erguer-se igrejas: do Sagrado Coração de Jesus, deS. José, de Santo Euberto (patrono da cidade), de S. Luís, do Coração de Maria, de S. Bento Labre, etc.. Havia sempre um anónimo (?) que oferecia o terreno. O Tesoureiro da sociedade deixou um apontamento que diz: "Parece certo que a parte substancial da enorme despesa vinha do Sr. Vrau, mas não existem documentos a tal respeito".
Não houve terreno em os Santos de Lille nâo aceitassem valorosamente a luta, para defesa dos interesses da Igreja e difusão da verdade. Como poderiam eles então deixar de se servir das duas grandes armas modernas: a imprensa e a escola?
Espalharam largamente a boa imprensa, pela qual tanto se interessam. Quando em 1900 os assuncionistas foram obrigados a abandonar "La Croix", o jornal não morreu e continuou sob a direcção de Paul Féron-Vrau.
Grande foi também o esforço a favor das escolas católicas: desde 1880 havia escolas de Irmãos em todas as paróquias de Lille, e o Presidente do Comité podia declarar que, no momento em que a Universidade Católica custava à província oito milhões, os católicos de Lille tinham sabido achar mais dois milhões para o ensino primário religioso.
À pressão desleal da Municipalidade, sectária em favor das escolas oficiais, responde a comissão Vrau com a criação dum vestiário, comissão de higiene, serviço médico escolar, catequese, adopção fraterna, patronatos, etc.,; de tal maneira que em 1888, contra uma população escolar de 12 000 crianças nas escolas oficiais, contam-se 21 000 nas escolas católicas.
Foi ainda em Lille que se celebrou por esta altura o primeiro Congresso Eucarístico Internacional no ano de 1881, com a presença dum Legado do Papa.
Restam umas palavras sobre a acção vicentina dos nossos santos: Vrau foi presidente do Conselho Central de Lille e Féron do Conselho Particular. O trabalho esmagador que recaía sobre o primeiro levou Féron a demitir-se do seu cargo para ir em auxílio do cunhado. Os meses de Julho a Outubro de cada ano eram empregados em viagens de visita às Conferências existentes, assim como às paróquias onde ainda não as havia, nas dioceses de Cambrai e Arras, meio pelo qual se fundaram 22 Conselhos Particulares e 161 Conferências.
Chegamos ao fim deste pálido esboço sobre a espantosa actividade destas duas vidas e perguntamos a nós mesmos se tudo isto se teria dado na realidade. É inacreditável, mas Deus permitiu que estas duas almas, devoradas de amor do próximo, por amor de Jesus Cristo, vissem cobertos de frutos o seu desmedido esforço, dando assim a mais categórica resposta ao desafio lançado em rosto dos estudantes católicos de Paris, nas Conferências da História: "Por que actos, por que instituições se assinala na actualidade a actividade dos católicos?" - Basta ir a Lille para se ter a resposta.
E chegamos ao final, a santa morte que um e outro tiveram, após uma longa vida de preparação. Vrau foi-se afastando das suas obras, desde uns anos antes: queria habituá-las a passarem sem ele e aproveitava para percorrer a França inteira, como missionário - missão de estabelecer a união das obras - durante uns 9 ou10 meses por ano. Entretanto toda a sua parte nos benefícios da empresa ia integralmente para as obras e para os pobres. Desde a sua conversão, comungava diariamente, alegrava-se com as humilhações que sofria e aplicava a si mesmo as disciplinas.
No ano de 1905 falecia santamente no fim da recitação do terço. Era o dia 16 de Maio, vigília da festa de S. Pascoal Bailão, o santo da devoção à Eucaristia que sempre foi também a sua grande devoção.
Camilo Féron quis igualmente preparar-se com tempo, para o que foi renunciando sucessivamente a todo o papel activo nas obras, excepto nas habitações operárias. Recolhe-se, faz um retiro e a última liberalidade é a cedência dum terreno para a construção duma igreja, a qual dota, e que o Arcebispo coloca sob o patrocínio de S. Camilo.
Não passa um minuto sem rezar. A Monsenhor Baunard, ilustre biógrafo dos dois e reitor da Universidade Católica, que dele se despede "Até à vista", responde "até à vista no Céu" e extingue-se suavemente em 30 de Março de 1908, ouvindo recitar "Parte alma cristã".
Os corações dos dois amigos, encerrados numa urna na parede do oratório da Universidade Católica, que os quis possuir, mesmo ao pé do Divino Sacramento, realizam à letra a palavra do Mestre: "Onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração".

No túmulo estão também reunidos os dois irmãos, enquanto o povo de Lille espera confiadamente a sua elevação aos Altares, pela beatificação, cuja causa, com parecer favorável de Roma, foi solenemente introduzida em 11 de Março de 1912.

Modelo Família Vicentina - César Guasti

César Guasti
(1822 - 1889)

  Nasceu em Prato, na Toscana, em 4 de Setembro de 1822, família fundamentalmente católica, à qual deveu a sólida educação, que toda a vida o manteve, sem quebrar ou desviar, no caminho do bem, por forma a constituir exemplo que de bem merece ser apontado aos vicentinos de Portugal; é-nos dado conhecê-lo, graças à extrema gentileza dos vicentinos italianos, os quais nos facultaram as necessárias fontes de informação: o óptimo livro «Cesare Guasti e la sua piétà», do P. Crispolti, três Conferências sobre Guasti e ainda o volume das cartas, o qual constitui o 7.º volume das suas obras. 
  Como historiador, crítico, filósofo e escritor, conquistou renome nas letras italianas e pôde ser classificado por Del Lungo, presidente da Real Academia della Crusca, como esplêndido artífice da palavra. Como arquivista revelou, aos vinte anos, à Itália os melhores escritos em língua toscana, nomeadamente os dos tricenticas e quatrocentistas franciscanos. E assim foi que, com apaixonado entusiasmo, católicos e não católicos tomaram contacto com a extraordinária figura de São Francisco de Assis. 
  Nas letras pôde ser tido como o escritor nobre das harmonias e também como homem da sinceridade, em contraposição a tantos que se servem dos melhores dons de Deus para nos transmitirem a dúvida.
  Dotado de requintada sensibilidade, vibrava intensamente com qualquer manifestação de arte e foi amoroso e profundo cultor do belo, como caminho para a verdade.Em florença, onde trabalhou desde os vinte e oito anos, conviveu com críticos e artistas de quem foi o grande animador e que onviam com respeito a sua opinião. A ele, como secretário da comissão de reconstrução da fachada de Santa Maria del Fiore, se deve, em grande parte, a majestade e imponência que dela fizeram a senhora das catedrais italianas.
  Espírito florentino e quase mediaval, não se impressionou grandemente com o fausto de oiro e mármores de São Paulo, em Roma, que classificou de «troppo bella» e prejudicada em arte pelo excesso de riqueza.
  Mas bem mais valiosa do que todas essas felizes disposições do seu espírito é a reputação de santidade deixada pelas suas singulares virtudes cristãs e que lhe valeu a introdução do processo de beatificação.
  Não se guardou para a idade madura: desde a primeira juventude se distinguiu pela pureza de intenção santificadora de todas as obras e assim viveu no século como se estivesse no claustro. A vida de Guasti encontrou sempre na Religião a força do seu ser e no convívio dos seus dignos ministros o melhor conforte e a mais pura alegria: mas nem por isso amou menos a pátria. Já avançado em anos, repetia que outros amores não tivera na vida senão os da Religião, da Pátria e da Arte.
  Esqueceu-lhe porém falar num quarto amor: o da Família, que ocupou uma parte tão grande do seu nobres e generoso coração! é ver o que foi o seu casamento; a perfeita união com sua mulher nos sete anos de felicidade conjugal que Deus lhe concedeu; e, depois da morte desta, aos trinta oito anos apenas, a constante recordação da sua memória e a total entrega à educação dos quatros filhos que lhe ficaram.
  Dele diz o seu biógrafo que deveu o seu perfeito equilíbrio a ter o corpo sujeito ao espírito e este sujeito a Deus.Tudo quanto se conhece da sua vida demonstra esse salutar equilíbrio, sempre mantido, desde a idade das fortes paixões. Senão, é ver a serenidade das suas disposições quando pensava em casar. Ao tomar a sua decisão, escreve uma carta admirável à sua mulher do seu grande amigo Giuseppe Mochi, senhora também da intimidade de Annunziatta Becherini, encarregando-a de comunicar a esta os seus sentimentos.
  Viúvo aos trinta e oito anos, com a vida em pleno vigor, soube compreender o altíssimo significado do matrimónio-sacramento e votou-se livremente, embora com forte sacrifício, ao estado de viuvez. entrega-se então totalmente à missão de educar os filhos e simultaneamente à da sua própria santificação, único verdadeiro interesse da vida, sempre no culto da esposa muito querida. Diariamente pratica actos de mortificação: em tudo se sujeita à vontade de Deus; ensina os filhos a rezar e com eles faz o exame de consciência.
  À educação dos filhos junta o estudo e o trabalho do arquivo do Estado e a Academia da Crusca; refugia-se na leitura dos Livros Santos, sobretudo dos Evangelhos e da Epístola de São Paulo.
  Jovem ainda, ajudou activamente a florir na sua cidade de Prato a obras das Conferências de São Vicente de Paulo, instituída por aquela alma puríssima e franciscana de Frederico Ozanam, por quem Guasti teve um verdadeiro culto.
  Foi depois membro honorário e grande protector da Conferência florentina, além do muito bem que praticava particularmente e sem que a mão esquerda soubesse o que dava a direita: foi assim que, um ano antes de morrer tornou a seu cargo uma família não pequena a quem morrera o pai.
  «César Guasti, nome que não teme o esquecimento! - Que homem! Religioso e integérrimo; viúvo em idade juvenil, obersevou nobilíssima severidade de costumes! - Que pai! Nas suas qualidades próprias de probidade e de amor à boa operosidade educou os numerosos filhos. - Que cidadão! Não nos campos de batalha, nem nos ministérios de Estado; mas serviu a Pátria com amor aceso pela sua glória e pelo seu bem, como funcionário público, como escritor e como Vice-Presidente da Deputação da História».
  Esta palavras, seguidas duma despedida sentidíssima, em que se acentua fortemente a saudade de Prato e de Florença, foram proferidas sobre o féretro de Guasti pelo seu colega, admirador e amigo, augusto Conti, em nome da Academia da Crusca.
  Ficam bem aqui, a fechar a breve notícia, que se quis dar aos portugueses de mais sublime modelo vicentino.         

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Modelo Família Vicentina - Luis de Mello Breyner

Luis de Mello Breyner
(1807 - 1876)

"O Homem-Conde Sobral" 
O Primeiro Presidente da Conferência de São Luis-Portugal.

Sendo o terceiro filho, Luís de Mello Breyner, nascido a 26 Outubro 1807 e falecido a 01 Setembro 1876, foi o segundo Conde de Sobral pelo seu casamento com D.Adelaide Braamcamp Sobral de Almeida Castelo Branco, de Narbonne-Lara. Casaram em 06 de Outubro 1834. Foi Grã-Cruz da Ordem de Cristo, Comendador de Torre e Espada, Cavaleiro de São Bento de Aviz,. Condecorado com a medalha de Oiro das Campanhas de Liberdade e com a de Valor, Bons Serviços e Comportamento exemplar, Par do Reino, coronel do exército, ajudante de campo do prícipe D. Augusto de Leuchtenberg, primeiro marido de D. Maria II e depois de D.Fernando de Saxe Coburgo Goth, segundo marido de mesma Rainha.
  Foi inicialmente educado no Colégio dos Pobres do Espírito Santo e, em 29 Novembro 1826, assentou praça em cavalaria 4.
  Em 1833, recebia a Torre e Espada. O Rei D. Fernando, a quem serviu vários anos, tinha por ele a maior estima.
  Afastou-se da política, dedicando-se ao melhoramento das sua propriedades agrícolas, considerando isso o melhor que podia fazer à Pátria e àqueles que aí trabalhavam.
  Em 17 Maio 1851 aceitou o cargo de Governador Civil de Lisboa, cargo que exerceu até 24 Agosto 1852, data em que pediu a demissão. A Grã-Cruz da Ordem de Cristo foi-lhe então concedida pelos trabalhos que aí exerceu. Voltou a ser Governador Covil de Lisboa de 28 Agosto 1856 a 02 Agosto 1858, tendo uma parte muito activa no reinado de D. Pedro V, se deram as grandes epidemias que assolaram Lisboa.

O Presidente da Conferência

  Não se absorvia, porém, tão completamente o Conde de Sbral nos negócios da sua casa que lhe não sobrasse tempo para se dedicar a outros misteres. Os deveres da caridade nunca o reclamaram debalde. Era o servo dos pobres, dos aflitos, dos desprotegidos e valia-lhes sempre, em todas as ocasiões, com o seu dinheiro, com os seus conselhos, com o seu préstimo. A pequena mesada que recebia (e nisso foi sempre escrupuloso até ao excesso) era toda despendida no favorecimento dos necessitados. Muitas vezes se privou alguns cómodos de vida, para não privar a outrem de algum socorro. Respeitava a probreza e, para a servir, largava tudo, como se tudo fora inferior a esta dignidade que é tão eminente, no dizer de Bossuet. Todos os dias o procuravam bastantes pessoas, para lhe pedirem esmola umas, outras para lhe pedirem pareceres e conselhos, que esmolas também são e, das que mais devemos agradecer.Dedicava as horas da manhã a este piedoso ofício e dele não largava mão até a todos ter despachado. Só depois da sua morte, é que pode saber-se a extensão e valor dos seus benefícios, tão rigoroso era o segredo que sobre eles guardava e mandava guardar aos interessados.
  À sua iniciativa se deveu a organização em Portugal das Conferências de São Vicente de Paulo, esse prodigioso instrumento de caridade para o corpo e para a alma. Foi o primeiro presidente da primeira Conferência portuguesa quis-lhe com o entranhado carinho de pai. Não se poupou a esforços para que na nossa pátria se aclimatasse esta formosa árvore, que tão abençoados frutos tem produzido onde se radicou. Trabalhou desveladamente para este fim. Pregava com a palavra e com o exemplo.
Nos começos pôde congratular-se que lograria o seu intento. Aumentava o pequeno núcleo dos primeiros dias, cresciam os bens que da Conferência instituída, começava o povo a amá-la e a respeitá-la. Por esta época apareceu a triste questão das irmãs de caridade. Tanto bastou para arruinar pela base os esforços do Conde. A Conferência ornava-se com o nome de São Luís; era espiritualmente dirigida pelos padres lazaristas; congregava-se no edifício de São Luís: nesta Igreja celebrava as sua festas. Não atendeu a mais nada a opinião que então dominava. Envolveu na mesma impopularidade a Conferência de São Vicente de Paulo e a sociedade secular que, sob a sua protecção e inspirando-se do espírito de caridade, curava de aliviar as misérias do corpo e de minorar os sofrimentos da alma. A Conferência é uma criação dos lazaristas, diziam os seus inimigos, é o modo disfarçado de nos impor as Filhas da Caridade, é um perigo para as instituições liberais, não deve tolerar-se. E, de facto, nunca pôde conseguir-se que ela tivesse existência legal.
  Trite cegueira foi esta e muito para lastimar. Os acrisolados defensores da liberdade mostravam-se mais descrentes nela do que os seus inimigos. Julgavam ver perigos no exercício de um direito que é princípio de liberdade. Esta é felizmente robusta e não sucumbiu aos repetidos golpes com que lhe cavavam a sepultura os que mais clamavam que a estavam consolidando. Os verdadeiros liberias curvaram a cabeça e deixaram passar a onda. Não havia que discutir. Na verdade era irrisório supor que o regime liberal corria perigo porque alguns homens se juntavam para rezar, coligir esmolas entre si, visitar os pobres, consolá-los, ensinar-lhes os seus deveres de cristãos e minorar-lhes as misérias. Neste programa estava a defesa da Conferência de São Vicente. O conde de Sobral sentia pois a sua consciência de liberal perfeitamente tranquila, ao passo que tinha tão intimamente satisfeita a sua consciência de católico. Não se enganou, porém, acerca da Conferência, nem conservou a ilusão que a principio tivera de nacionalizar esta instituição. Contudo, nem abandonou nem sequer afouxou o seu zelo. Serviu a Conferência enquanto ele durou. Dissolvida por falta de membros, foi o último a retirar-se, como o comandante de um navio é o último a sair do seu bordo, quando o naufrágio exige o abandono do barco.
  Não era, pois, tão somente teórico o catolicismo do conde. Respeitava a religião e seguia-lhes os preceitos, Deu várias provas ao longo dos anos seguinte, participava em muitas ocasiões angariando fundos. O seu bom carácter e severidade dos seus princípios muitas vezes era escolhido para conselheiro ou arbitro nas questões de defesa de famílias. Foram frequentes os casos em que o conde foi chamado a dar o seu parecer em assuntos que podia perigar a honra de alguém. Era consultado como se fora o juíz que melhor conhecesse os preceitos que regulam tão melindrosas e delicados casos. O Conde de Sobral na sua intimidade da vida de todos os dias, era simples, franco e de bom trato, modesto no traje. Para os amigos tinha o coração sempre aberto. Para ele, a amizade não era palavra vâ; era um sentimento verdadeiro que ele sabia expressar em actos, até com sacrifício próprio, quando assim era necessário.
  Falava sempre com a máxima reserva e era neste ponto inexcedível a sua prudência. Ninguém conservava melhor um segredo. Fugia de ouvir confidências, mas tinha a rara e difícil qualidade de as guardar para si, quando porventura lhas confiavam.
  Raras vezes se deixava arrebatar da ira e nunca por motivos fúteis. Havia perfeitamente domado o seu génio naturalmente fogoso. Escravizava o temperamento em vez de ser por ele escravizado. Diante de uma acção mesquinha ou vil, dava largas à sua cólera; era tremendo quando fulminava a injustiça ou quando lançava em rosto a um infame toda a abjecção da sua conduta. Quando sucedia exceder-se sem motivo plausível e que satisfizesse a sua consciência, penitenciava-se espontaneamente e não se envergonhava de pedir perdão a quem julgasse haver ofendido, fosse qual fosse a posição da pessoa perante quem se humilhava.
  ... Terminados os piedosos actos assombrou-se de novo esta inteligência há pouco ainda tão clara e rebusta e só voltou a conhecer-se na presença de Deus e à luz do eterno dia, que para ele despontou em 11 de Setembro de 1863.
  Entre os papéis do Conde de Sobral encontrou-se um breve escrito e que narra, com a sua habitual concisão e singeleza, a doença e morte de seu filho.
  Luis de Mello Breyner nunca fora mundano no sentido vulgar da palavra, nunca fora dado a divertimentos estouvados, mas como homem de bom senso que era, não fugia aos deveres que a posição impõe e as relações de amizade criam. O Conde nunca soubera o que eram respeitos humanos. toda a sua vida cumprira franca e abertamente os seus deveres religiosos, nunca escondera os seus sentimentos de verdadeiro cristão, nem para comprazer com certas ideia hoje tão vulgares; fazia mistério da sua fé. A Sua dedicação pelo Sumo Pontífice; a sua ardente simpatia pela sociedade São Vicente de Paulo; o zelo com que olhava pelo culto do Santíssimo Sacramento na freguesia de Santa Isabel; a devoção a Nossa Senhora eram verdadeiramente edificantes.
  Era seu confessor o Padre Miel, amigo a quem desvendou os mistérios da sua vida, as faltas e fraquezas a que, como homem, estivera sujeito. Antes da morte, mas quando já estava muito mal, foi visitado pelo Núncio Apostólico que lhe levou uma bênção especial do Santo Padre. Oito vezes se lhe rezavam as orações dos agonizantes. Em todas elas, menos na última, seguiu atentamente todas as palavras que em volta dele se proferiam.
         




terça-feira, 25 de agosto de 2015

Modelo Família Vicentina - Jean-Léon Le Prévost


Jean - Léon Le Prévost
(1803 - 1874)

UM HOMEM TODO CARIDADE

Le Prévost foi vicentino muito actuante em sua época. Foi por sua sugestão que as Conferências de Caridade passaram a chamar-se Sociedade de São Vicente de Paulo. Anos depois, ele funda uma congregação de padres e irmãos intitulada Religiosos de São Vicente de Paulo. Nos tópicos abaixo temos um resumo da sua vida.

Infância e juventude

  Os Le Prévost constituíam uma das mais antigas famílias da cidadezinha de Caudebac - en - Cax., na Normandia (França), situada nas margens do rio Sena. Seu pai, Jean Louis Claude Le Prévost, exercia a profissão de titureiro e branqueador de algodão. Casou-se no dia 9 de Maio de 1802 com Françoise Pitel. Deste casamento nasceram dois filhos. Um ano depois do nascimento de Maria, a irmã mais velha, nascia Jean-Léon, em 10 de Agosto de 1803.
  Jean-Léon não tinha ainda um ano no momento da morte de sua mãe. Em 1805, seu pai casa-se, em segundas núpcias, com Marie Françoise Rosalie Duchatard. Esta mulher ocupa um lugar importante na vida e na educação de Le Prévost. Ela foi uma «verdadeira mãe» para ele. É o testemunho que Prévost dará desta mulher que ele cercará com o seu afecto até à sua morte, ocorrida em 1845. Ela estava com 42 anos à época do casamento. O casal não teve filhos. Na idade dos três anos, Le Prévost sofreu uma queda que lhe causou uma enfermidade na perna direita. O mal exteriormente é pouco sensível, mas a extrema fraqueza da perna obriga-o a parar frequentemente. Ele recorrerá ao uso da bengala para fazer as suas «corridas de caridade» nas ruas de paris ou na periferia. Sua mãe, muito piedosa, lava-o aos santuários da região, na esperança de obter da Virgem uma possivel cura. Retirado em Chavile, Le Prévost, nos seus últimos anos, lembrava com emoção as longas caminhadas de oração e fé de sua infância: «permaneci coxo, mas, sem duvida, é a todas as preces de minha mãe que devo o pouco amor a Deus que está no meu coração».
  A infância de Le Prévost passa-se sob o Império de Napoleão I. Na época, o ensino deixava muito a desejar. Le Prévost recebe as primeiras lições junto de um padre laicizado e algumas senhoras, primas de sua mãe. Le Prévost deixa, aos 16 anos, os seus estudos, pois precisava de trabalhar. Encontra um emprego de copista. Um gesto dá testemunho de seu amadurecimento - renuncia à sua parte de herança em favor da sua irmã: «Que a minha parte seja junta à de minha irmã, para lhe constituir um dote; para mim a minha educação me basta». O sofrimento de seu pai não terá sido inútil pois te-lhe-á possibilitado o saber colocar-se no lugar do pobre, do humilde, do rejeitado.

Le Prévost e a SSVP

Em 1831 desembarca em Paris o jovem António Frederico Ozanam, filho de um médico de Lyon. Este brilhante aluno deseja preparar o seu mestrado em Direito. As suas convicções religiosas, e a sua grande inteligência e a sua autoridade pessoal fazem dele o lider dos jovens estudantes católicos. Ele faz amizade com Lacordaire e escreve no jornal de Bailly, como Jean-Léon Le Prévost. os dois homens encontram-se no jornal «La Tribune Catholique» na casa de Emmanue Bailly seu proprietário e redactor-chefe.
  Ao completar 20 anos, em 23 de abril de 1833, Ozanam reúne, com Bailly, muitos outros companheiros: Lamanche, Le Taillandier, Devaux e Lallier. Encorajados pela Irmã Rosalie, estes jovens estudantes desejam manifestar a sua fé através de uma reunião literária, dirigida por Bailly, numa associação devotadamente aos pobres. Ela destinava-se a «demonstrar aos deístas, aos cépticos e aos filósofos a vitalidade da fé».
  Le Prévost encontra Ozanam e os seus companheiros, não somente no escritório de Bailly, mas também num pequeno restaurante: «Eles comiam comigo. eles eram animados e um pouco barulhentos. Amante do silêncio eu temia-os um pouco». Um dia um deles dirige-se a Jean-Léon e, após um maior conhecimento mútuo, é-lhe proposto juntar-se ao pequeno grupo recém-constituído sob o nome de «Conferências da Caridade».
  Estamos mo mês de Agosto no momento de separação para férias. Em outubro seguinte, Le Prévost é atingido pela cólera e a sua convalescença prolonga-se por todo o mês de Novembro. Só estaria presente na Conferência da Caridade no dia 17 de Dezembro de 1833, como testemunharam as actas do Secretário-Geral Chaurand. Naquela época os vicentinos já eram 15. Dois meses mais tarde, em 4 de Fevereiro de 1834, Le Prévost pede «que a Sociedade se coloque sob a protecção de São Vicente de Paulo e celebre a sua festa, além de uma oração feita no início e no fim de cada reunião».Esta proposta correspondia aos desejos do conjunto dos vicentinos e, em particular, de Bailly, cuja família venerava «Monsieur Vicent» É na assembleia de 8 de Dezembro de 1834 que o nome «Sociedade São Vicente de Paulo» é escrito pela primeira vez.
  A visita aos pobres, aos jovens presos, a responsabilidade assumida para com um grupo de órfãos, são outras tantas actividades em que encontramos o vicentino Le Prévost, que não esconde o seu entusiasmo, que se reflecte nas cartas da época «Não saber a quem recorrer, com quem se entender, a fadiga, a vertigem e, depois, quando se deixa tudo, por esgotamento, ver tudo, à mercê do bom Deus, correr melhor e, chegar sem a gente, ao objectivo...».
  Vivendo geralmente longe de Paris, António Frederico Ozanam recusou o cargo de Vice-Presidente em 1835 - também em 1840 - e é Le Prévost que ocupa este a partir de 8 de Dezembro de 1835 até 1839. No ano de 1835, o conselho Directivo desdobra-se em dois : Conselho geral e Conselho de Paris.
  Le Prévost, membro do Conselho Geral, dele participará até Outubro de 1835. Como Presidente da Conferência Sant-Suplice, é membro de direito de conselho de Paris. Durante mais de uma dezena de anos, nele desenvolverá todos os seus talentos de animador e organizador.

Leigos trabalhando  

  Nascido desta «querida Sociedade de São Vicente de Paulo», o Instituto de Jean-Léon Le Prévost tinha aprendido o que era apostolado leigo. Os primeiros membros desta família religiosa tinham iniciado a caridade nas obras da Sociedade de São Vicente de Paulo. Esta experiência tornava-se o ponto de partida de uma acção missionária rejuvenescedora e o início de uma tomada de consciência dos problemas socais da época.
  Em 1874, o Instituto contava com 64 religiosos empenhados no trabalho apostólico em 11 comunidades. Eis o segredo deste sucesso: «Os esforços deste pequeno número de homens são multiplicados na prática das obras por um processo que caracteriza o espírito do Instituto e, que consiste em fazer agir em toda a parte, ao redor de nós, um certo número de homens de classe dirigentes que se instruem e se santificam, colaborando com os religiosos. Pode avaliar-se em 300, mais ou menos, o número destes auxiliares».
  Ozanam tinha razão de querer preservar as Conferências do controlo clerical e conservar-lhe o seu carácter leigo. O vicentino Le Prévost e o seu Instituto reconheciam a autonomia das associações leigas, colocando-as no conjunto da vida eclesial.
  Le Prévost descobriu muito cedo e em grande parte graças à Sociedade São Vicente de Paulo, que os leigos são membros por inteiro desta grande família eclesial, que são uma vanguarda missionária e chamados à perfeição evangélica.
  Caridade é doação, entrega, despojamento. Para atingirmos a santificação devemos vivê-la. Assim Le Prévost definiu caridade:«Caridade: que palavra e que coisa sublime!... Como o bom Mestre fez um lindo presente ao mundo quando veio trazer este fogo divino! Possamos, segundo seus desígnios, acendê-lo em seu nome ao redor de nós».

Resumo da vida de Le Prévost

1803 - Nascimento (10 de Agosto - Normandia).
1803 - Baptismo (7 de setembro).
1825 - Conhece Victor Hugo, Lacordaire e Montalembert.
1833 - Ingressa na SSVP.
1836 - Primeiro presidente da Conferência de Sant-Sulpice.
1840 - Membro do Conselho Geral da SSVP.
1844 - Fundador da «Obra da Sagrada Família».
1845 - Fundador dos «Religiosos de São Vicente de Paulo».
1860 - É ordenado sacerdote (22 de Dezembro).
1874 - Falecimento (30 de Outubro em Chavile).

  

   

domingo, 23 de agosto de 2015

Modelo Familia Vicentina - Léon Papin Dupont

Léon Papin Dupont
«O Santo Homem de Tours»

  A vida de intensa piedade e de confiança absoluta no poder da oração, que caracterizou o «Santo Homem de Tours», também conhecido pelo «Servo da Santa Face» e pelo «Traumaturgo de Tours», tentou os biógrafos a um dos quais, L. Baudiment, Superior do semanário Maior de Tours, vamos respigar alguns traços marcantes de tão extraordinária influência sobrenatural, desenvolvida no século de Taine e de Renan.
  Nasceu ma Martinica, de família nobre, originária da Bretanha . Papin di Pontcallec - que ele, modestamente e apenas interessado na genealogia que o tonava filho de Deus e irmão de Nossa Senhor e dos Santos, simplificou para o banalíssimo «Dupont».
  Feitos os primeiros estudos na escola local, seguiu para os EUA e logo que voltou a paz ao mares, para França onde no Colégio de Pontlevoy, deu as primeiras provas de carácter: surpreendido um dia o curso que fazia parte, em flagrante atitude de distúrbio no tempo de estudo, de entre os vinte e nove alunos, apenas Léon se acusou, o que mereceu ao professos este dito de espírito, no momento em que tocava para o recreio: «Oh meu rico menino, não merece ficar aqui misturado com estes companheiros tão bem comportados; vá para o recreio».
  Em Paris cursou direito e licenciou-se em 1821. Paralelamente à sua vida de trabalho e de piedade, que nunca abandonou, no meio daquela sociedade voltairiana, levou ali vida bastante mundana: bonito rapaz, de elevada estatura e maneiras distintas, rico e de boa família, foi notado na sociedade elegante como cavaqueador, dançarino e boa mão de rédea. Até que soou a hora em que Deus lhe fez compreender o lado sério da vida cristã: data dái aquilo a que, pela vida fora ficou sempre a chamar «sua conversão», nascida da curiosidade que o levou a acompanhar um jockey admitido ao seu serviço, para assistir a uma sessão da obra dos «Petits Savoyards»; fica maravilhado com a existência, naquela hora conturbada, de cristãos que sacrificam a sua liberdade à salvação do próximo, indo ensinar catequese e isto decide-o entrar para a chamada «Congregação», criadora das obras dos hospitais, das prisões, dos pequenos Saboianos e de S. Francis Régis.
  Começa então a praticar o Confissão e Comunhão hebdomadárias, esforça-se por dominar o génio, naturalmente violento, e tem rasgos de extrema generosidade e sacrifício heróico: um dia entra numa papelaria no momento em que os credores se precipitam sobre o proprietário, pobre homem, carregado de família, que suspendera pagamentos, por falta de 1.500 francos. Dupont, informado, diz apontando para a rua: «pegue ao meu cavalo e no tilbury, venda e pague»,o que foi feito.
  Do casamento nasce uma filha, mas oito meses decorridos a mãe é levada pela tuberculosa e só a fé consegue sustentar a amargura do pai. A saúde e a educação da filha levam-no a partir de França, para o que pede no Tribunal um licença, logo transformado em demissão.
  Hisitante sobre a sua vocação religiosa, aceita a vontade de Deus:será cristão leigo, disposto a levar a virtude até ao seu meio social, como excelente percusor que foi da Acção Católica. E como a cidade de Tours ficou edificada com a atitude duma das sua figuras mais marcantes, que acompanha o Viático, ajuda à Missa e toma parte em todos os actos de culto!
  Depois de uma caminhada iniciada dedicada à oração, mais adiante do texto é referido é referida a sua vocação pelos pobres: Um dia, procurado por uma pobre ameaçada de despejo e sem ter que lhe dar, entrega-lhe a preciosa caixa de rapé.E, com esse gesto, lucrou mais a perder dum vício.
   E quantos prodígios de caridade encobertamente praticados! Tal o caso duma senhora da Martinica, que perdera toda a fortuna; no entanto, não deixa de receber regularmente géneros coloniais e felicita-se pelo facto de a sua propriedade dar ainda algum rendimento... secreta delicadeza do seu conterrâneo!
  Dedica-se especialmente à visita dos presos e que magníficos frutos colhe então desse apostolado!
  Compreendendo a força da associação, então para a Conferência de São Vicente de Paulo de Tours, em 1844, onde foi o mais assíduo, o mais activo, piedoso e generoso dos vicentinos, pontualíssimo, nunca perde a oração e leitura espiritual. Não apresenta qualquer projecto sem prévio~entendimento com o presidente. Não pôde levar a cabo os seus projectos de organização metódica da visita aos presos e criação duma hospedaria gratuita para pobres, mas toma parte, durante longos anos, no ensino ministrado a cento e cinquenta rapazes e adultos, na aula mantida pela Conferência: requisita para si os mais estúpidos e atura-os com a maior paciência. Da mesma maneira ensina nas obras dos soldados, igualmente a cargo da Conferência e aí é ouvido com todo o respeito pelos soldados, admirados por verem um homem do mundo falar-lhes como ninguém jamais lhes falara.
  Auxilia muitas outras obras: o orfanato de rapazes, onde as hortaliças que encontra na rua vão despejar cestos inteiros, por ele pagos; os missionários de Bouligny (para a evangelização dos populações rurais), instituição à qual doa a sua propriedade de Bouligny; e as Irmazinhas dos Pobres, para as quais conseguiu a fundação duma casa em Tours e a quem presta assistencia constante e generosa.
  Em necessidade de render a Deus o culto que lhe é devido, cria a fundação da obra da Adoração Reparadora. Mas não só a fundou: cotou-a com camas, colchões, cobertores e roupas, sempre impecavelmente limpas, assoalhou o salão, comprou uma estufa, fornecer combustível, lâmpadas, genuflexórios, etc. Criou um registo das intenções comuns, que eram lidas antes da exposição do SSº e, nesse registo marcava com uma cruz as que eram atendidas.
  Tem uma encantadora história a primeira cruz:
  O P. Redon, Superior dos padres da Missão, precisava de quatro mil francos para acudir a embaraços de negócios de um pobre homem: falar a M. Dupont, que inscreveu a inteção no registo para a Adoração dessa noite e lhe disse: «Estou certo de manhã terá esse dinheiro». - às quatro horas de madrugada o P. Redon, dita a Missa da Adoração, tomara a diligência de Orléans: Ao clarear, um seu vizinho, velho amigo, reconheceu-o e entabulou conversa. Na muda disse ao padre: «Ainda bem que o encontrei, pois quero pedir-lhe um serviço: tenho comigo uma quantia para aplicar em boas obras e vai o meu Amigo quem disso se vai encarregar». - E entregou-lhe o dinheiro: eram quatro mil francos!.
  Os anos vão passando, abraçando a oração, que em conjunto com uma família se ajoelham esperando que uma sua filha se cure de uma doença agradecem a grande graça.
  Os últimos dias da vida são de doloroso sofrimento: a doença da gota ataca as mãos, depois as pernas, quase não pode escrever; a paralisia avança mais e mais. Suporta com inteira conformidade o sofrimento, recebe os últimos Sacramentos e responde às orações dos agonizantes, até que, chegando ao salmo »Beati immaculati in via...», um angélico sorriso lhe ilumina os traços pela última vez e descansa no senhor.
Em 1 de Outubro de 1883 o Arcebispo manda abrir o «processo informativo» sobre a heroicidade das virtudes e os milagres do servo de Deus, Léon Dupont, o que se fez imediatamente: em oitenta sessões foram ouvidas inúmeras testemunhas e as actas só foram entregues em 1888.
  Concluído o processo informativo, S.S.o Papa Leão XIII mandou, em 1891, abrir o processo de beatificação; começo os exames escritos o iniciou-se o chamado «processo de não-culto», fase em que se procura averiguar senão terá havido antecipação de culto. Entretanto houve uma longa suspensão e só em 1926 é que S.S.Pio XI permitiu que o processo entrasse na fase definitiva.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Modelo Família Vicentina – Beato Frederico Ozanam

Frederico Ozanam
(1813 - 1853)

  Não sendo lícito que um vicentino desconheça a grande figura do nosso fundador, vamos tentar recordar muito resumidamente a sua vida assim como o papel predominante desempenhado na fundação da Sociedade.
  Nascido a 23 de abril 1813 de pais cristianíssimos, que souberam comunicar-lhe o amor de Deus e lhe ensinaram a ver Jesus Cristo na pessoa do pobre, Frederico Ozanam soube conservar, mesmo na idade dos fortes paixões, um coração puro e a sua fé, mal foi afectada ao primeiro contacto com os sistemas filosóficos, por uma ligeira incerteza, imediatamente dissipada, da qual resultou para a vida inteira uma forte compaixão pelos transviados e a vontade de demonstrar que só o ensino caído dos lábios de Cristo e perpetuado pela Igreja possui os sinais infalíveis da verdade eterna e divina.
  Terminado em Lyon o curso secundário, vai seguir direito em Paris, onde encontra aquele meio agitado que se seguiu à queda dos Bourdons; sente-se triste e isolado ao ouvir as diatribes anti-religiosas lançadas por Jouffroy do alto da cátedra da Sorbonne.
  «Paris desagrada-me», escreve ele, «porque não tem vida, nem fé, nem amor». Mas ganha forças e reage ao agasalhar-se em casa do sábio Ampère, que remata assim as conversas íntimas que com ele tem sobre as maravilhas da natureza: «Ozanam, como Deus é grande, como Deus é grande!»
  Refeito então, traça o programa que dominará a actividade de toda a sua vida: residindo no catolicismo o melhor remédio para os males da sociedade contemporânea, há que demonstrar a sua verdade cientifica e histórica.
  Para se armar convenientemente, lança-se ao trabalho; estuda 15 horas por dia e aprende línguas estrangeiras, ao mesmo tempo que recruta entre os estudantes da Sorbonne colaboradores com os quais prepara a resistência à ofensiva anti-religiosa que naquela Universidade se desenvolvia. Respeitosamente, mas com firmeza, sustenta a sua opinião com uma lógica que desarma o adversário e obriga Jouffroy a dizer que a oposição, de materialista, se transformou em católica.
  Vêm, então, as Conferência da História como meios de formação intelectual e de adestramento para o combate; Delas nasce a 23 abril de 1833, na data do seu vigésimo aniversário, nasce a 1.ª Conferência da Caridade, precursora da grande obra que é a Sociedade de São Vicente de Paulo, graças à qual tantas misérias materiais e morais têm sido confortadas, por cujo intermédio tantos homens aprenderam que de nada valem os dons da inteligência se não forem acompanhados dos do coração e que o melhor remédio contra as tentações do espírito ou da carne é ainda a comunhão com o sofrimento dos nossos irmãos desgraçados.
  É também nessa época que Ozanam, apenas com 21 anos, consegue vencer prevenções e existentes contra Lacordaire que, apesar da sua inteira submissão a Roma e rompimento com a doutrina extremista de Lamennais, continua  a ser tido como suspeito; impõe o seu nome para primeiro pregador das conferência de Notre-Dame, a primeira das quais se realiza com a assistência de 6.000 pessoas e constitui um verdadeiro triunfo. Esta é, sem duvida, outra das grandes obras de Ozanam, ter levado ao púlpito de Notre-Dame, com a sua mundial projecção, grande pensadores que vão confirmando a vitalidade de Igreja.
  Diplomado em direito, defende também com o melhor brilho tese de Letras, sobre Dante e a filosofia do século XIII:a sua viva argumentação e a convicção profunda com que defende os seus pontos de vista, valem-lhe no final esta exclamação do professor e ministro Victor Cousin: «Senhor Ozanam, a sua exclamação do eloquente nunca foi excedida nesta faculdade!»
  É então nomeado professor de Direito Comercial em Lyon e pretende ser provido na cadeira, para ele bem mais interessante, de literatura estrangeira, ao que se levantam dificuldades originadas pelas suas crenças.« O Ministro promete a cátedra com condições de tomar parte no concurso aberto para a cadeira de Literatura na Sorbonne, as probabilidade de Ozanam são nulas dado haver sete concorrentes no entanto laça-se na preparação para o concurso que abrange três literaturas clássicas e quatro estrangeiras; estuda dezoito horas por dia chegando a exame extenuante e febril. O resultado é a sua classificação em primeiro lugar o que decide optar pela cátedra da Sorbonne.
  Na Sorbonne ensinou Ozanam com verdade e com paciência, levada ao heroísmo durante dose anos, não hesitou em imolar-se ao serviço da civilização e da Igreja, como entendia ser dever do homem de ciência cristão, em paridade de sacrifícios com o missionário que se deixa matar no Oriente. «Ah, meus senhores - dizia -, não sejamos cobardes a ponto de acreditar numa partilha que seria uma acusação contra Deus, que a teria feito e uma vergonha, para nós, que a aceitaríamos».
  Apaixonadamente interessou-se pelos problemas sociais e, percursor da doutrina da Igreja neste campo, defendeu o salário natural, reivindicou disposições contra o desemprego e os acidentes e reclamou a reforma para os trabalhadores.
  Nas Conferências ocupou-se, além da visita domiciliária, de obras anexas e criou a visita aos menores detidos, a dos aprendizes e a dos militares.
  Em 1852, exausto de trabalho, vai procurar no doce clima da Itália algum alívio para o seu mal. Mas as forças continuavam a declinar. Resignado, sente-se atraído para a eternidade e, posto que muito custosa a ideia da separação dos seus queridos, pronuncia o «fiat», abandonando-se inteiramente à vontade de Deus, na formosíssima oração escrita no dia do seu 40.º aniversário, da qual extraímos estas passagens:

  «... Sei que completo hoje os meus quarenta anos, mais de metade do caminho da vida. Sei que tenho uma mulher jovem e estremecida, um filha encantadora, excelentes irmãos, uma segunda mãe, numerosos amigos, uma posição honrosa, trabalhos chegados precisamente ao ponto em que iriam servir de base a uma obra há muito sonhada. E entretanto eis que sou tomado por uma doença grave, renitente e tanto mais perigosa, porque esconde, provavelmente, um esgotamento completo.
  Será então preciso deixar todos estes bens que Vós mesmo, meu Deus, me tínheis dado? Não vos contentais, senhor, com uma parte do sacrifício? Qual das minhas afeições desordenadas deverei imolar-Vos? Não aceitareis o holocausto do meu amor-próprio literário, das minhas amboções académicas, ou até mesmo dos projectos de estudo, onde talvez houvesse mais orgulho do que zelo pela verdade? Se vendesse metade dos meus livros para dar o seu valor aos pobres e congindo-me ao cumprimento das deveres do meu cargo, consagrando o resto da vida à visita dos indigentes e à instrução dos aprendizes e soldados, Senhor, ficaréis satisfeitos e conceder-me-éis a duçura de envelhecer junto de minha mulher e de completar a educação da minha filha? Talvez não o querais! Não aceitais estas ofertas interesseiras: rejeitais os meus holocaustos e os meus sacrifícios. É a mim que Vós quereis. Está escrito no começo do livro que devo fazer a Vossa vontade. E eu disse: «Es-me aqui, Senhor».
  «Dar-me-eis a coragem, a resignação a paz da alma, e aquelas consolações exprimíveis que acompanham a Vossa presença real. Far-me-eis encontrar, na doença uma fonte de merecimento e de bênção, bênçãos que fareis recair sobre minha Mulher, sobre minha filha e todos os meus, aos quais as minhas obras aproveitariam menos do que os meus sofrimentos».

  Regressando a França, agrava-se a doença e ao passar em Marselha, o fim parece iminente. Ozanam encaro-o com a maior serenidade e responde com simplicidade aos sacerdote que i acompanhava, recomendo-lhe que tivesse confiança em Deus: «Como poderia temê-Lo, se O amo tanto!» E murmurando: «Meu Deus, meu Deus, tende compaixão de mim», expirou.
  . . . Era o dia 08 de Setembro, 1853 dia da natividade de nossa Senhora..
  Paris reclamou o seu corpo, que jaz sepultado na cripta da Igreja des Carmes.
  Não é para admirar que a condição da alta espiritualidade da sua vida, toda ela dominada pelo pensamento da defesa da Religião, com inteira submissão ao Pontífice, a sua extrema caridade, assim como a evidente bênção de Deus sobre as sua obras, tenham feito nascer a ideia da beatificação de Ozanam. Com o apoio do Cardeal-Arcebispo de Paris e do Cardeal-Protector da Sociedade, foi proposto a causa a 15 de Março de 1925 e feito já o exame aos seus numerosos escritos, nos quais nada se encontrou que obstasse ao prosseguimento do processo. Assim, Sua Santidade João Paulo II assinou o Decreto de Beatificação em 25 de Junho de 1996 e foi solenemente beatificado em Paris, no dia 22 de Agosto de 1997, durante o Encontro Mundial de Jovens, a pedido do Santo padre, como exemplo para a juventude.
  No mesmo dia foi declarada Doutora da Igreja, Santa Teresa de Lisieux.

      


terça-feira, 18 de agosto de 2015

Modelo Família Vicentina: - Irmã Rosália Rendu

Irmã Rosália Rendu
(1785 - 1856)

  Impossível fazer a história da Sociedade de São Vicente de Paulo sem citar o nome desta «Filha da Caridade», tão notável foi o papel por ela desempenhado na entrada em exercício da primeira Conferência da Caridade e, mais tarde, no seu desdobramento, que deve ser tomado como o acto que marca a formação da Sociedade.
  Ficaria, pois, certamente incompeta a galeria dos nossos modelos vicentinos sem a inclusão do nome da Irmã Rosália, iniciadora dos nossos fundadores na prática da Caridade dentro do espírito de São Vicente de Paulo. Foi, de facto, ao seu grande coração, experimentado conselho e profundo conhecimento do miserável e revolto bairro de Saint Marceau, em Paris, que Ozanam e os seus companheiros recorreram nas dificuldades dos primeiros passos; e ela apressou-se a guiá-los até à morada dos pobres, deu-lhes os primeiros vales, conseguiu recursos financeiros e, melhor que tudo isso, prestou-lhes os conselhos mais valiosos, sempre cheio de respeito pela pessoa do pobre, numa admirável lição de recristianização pelo amor e pelo exemplo da sua vida.
  A base do ensinamento que ministrava nas reuniões, que no fim dum dia de trabalho tinha com os primeiros vicentinos a quem chamava «seus filhos», girava sempre à roda do amor aos pobres; da misericórdia de que, a exemplo do Divino Mestre, se devia sempre usar para com os seus defeitos, atribuíveis às privações que passem e à falta de educação; do apreço em que eles tinham o carinho que se lhes dedicasse, ao qual eram bem mais sensíveis do que ao auxílio monetário.
  Nestes fundamentos assentou o espírito da Sociedade, logo fixado nas suas regras e pode-se dizer que da Irmão Rosália recebemos a técnica da visita domiciliária.
  Mas foi também decisiva a sua opinião em favor do desdobramento da primeira Conferência, onde o excessivo número de vicentinos já não permitia regular rendimento. A ideia da separação e corte de tão agradável intimidade das reuniões, não podia porém ser encarada por grande número deles, que obstinadamente defendiam a unidade..
  Foi preciso que um dos proponentes da divisão exclamasse: «Esta opinião não é minha; é da Irmã Rosália». Tanto bastou para que se calassem todos os protestos e para que fosse acolhida com respeito a ideia da divisão. Podemos pois afirmar que ela foi, neste passo, o porta-voz da Providência, que contrariamente ao pensamento dos nossos fundadores, preocupados com o ideal da intimidade na Conferência, marcara nos seus desígnios a universal projecção da obra, só possível da multiplicação dos seus núcleos.
  Impunha-se tornar bem conhecida dos vicentinos a intenção directa da Irmã Rosália na fundação da Sociedade, mas tornar-se também necessário dá-la a conhecer sob outros aspectos, por alguns apontamentos da sua vida, que mostram o sublime grau de heroicidade do seu amor ao próximo, que mereceu a introdução da causa de beatificação e que cabalmente explicam o elevado prestígio de que gozou entre os primeiros vicentinos.
Criada, juntamente com mais três irmãs, num solar da província, em França, por sua mãe, que muito cedo enviuvara e repartia o tempo entre a educação das filhas e o socorro aos pobres da vizinhança, Joana Rendu desde muito nova viveu as constantes inquietações e gravíssimos riscos do período do Terror, em que a sua corajosa mão não hesitava em salvar a vida, embora com os riscos da própria, a quantos membros do clero e da nobreza ali procuravam refúgio.
  Que impressão não teria feito aos sete anos de Joana acordar uma madrugada em sobressalto e ver o criado Pierre, admitido ao serviço poucos dias antes, celebrar Missa no seu próprio quarto! Era o bispo de Annecy que, perseguido, se acolhera àquele hospitaleira casa disfarçado de criado. 
  Viveu assim desde criança o drama daquela sombria hora e, temperadas as energias no corajoso exemplo da sua mãe, longe de se atemorizar, compreendeu a necessidade de se robustecer para a grand eluta que seria a sua vida inteira.Aos quinze anos teima de tal maneira em fazer um estágio, como praticante de enfermeira no hospital de Gex, que consegue ser admitida: e, é aí, no meio de tantas dores e tanta miséria, que sente o chamamento de Deus para avida religiosa. Mais uma vez consegue vencer a resistência da mãe, mal segura da consistência da vocação em tão tenra idade, com estas palavras decididas: «Amar-se-á menos a Deus, porque se é jovem?. Naqueles anos terríveis do Terror, em que, a cada minuto, arriscavas as tuas e as nossas vidas para dar guarida aos perseguidos, consideraste acaso que os teus filhos eram demasiado novos para sustentar as possíveis consequências da tua caridade, se alguém nos denunciasse?»
  Assim vai fazer o noviciado e, aos vinte oito anos, Joana Rendu, agora a Irmã Resália, é Superiora da Casa das Filhas da Caridade no bairro da miséria e do vício da Saint Marceau, em Paris. E aí começa a sua espantosa tarefa de recristianização pela caridade, que as Conferências de São Vicente de Paulo se proporão seguir. Obtido o subsídio de particulares e do Município, organiza os socorros: cria uma rouparia, uma farmácia, o serviço de vales de pão e diversas outras formas de socorros e parte à conquista das mansardas. Conquista, pelo amor de Cristo na pessoa dos pobres, aos quais assiste em toda a sorte de dificuldades e dores, curando as suas chagas, levando-lhes o indispensável em géneros ou roupas, congraçando-as (fazer as pazes), perdoando-lhes os erros e vícios e com eles chorando, protegendo-os quando perseguidos, fossem quais fossem os ideais.
  Nesta acção tão intensa e tão arriscada consumiu a sua vida, tornando-se uma das figuras mais extraordinárias e mais populares de Paris. No ano de 1833 sucediam-se as revoltas; no bairro de Saint Marceau levantavam-se constantemente barricadas e o povo batia-se ferozmente contra as tropas regulares. Então a Irmã Rosália improvisava socorros e não receava expor-se percorrendo as barricadas e esforçando-se por acudir a todos, sem distinção de partidos.O Prefeito da polícia de paris passa um dia mandado de captura contra ele, por protecção a um oficial da Guarda, comprometido com revolucionários; o oficial que recebe a ordem dispõe-se a cumpri-la, mas vai prevenindo o Prefeito de que todo o bairro pegará em armas para defender a Irmã Rosália. Então é o próprio Prefeito que se propõe ir lá pessoalmente, pois quer conhecer que razões haverá para tanta dedicação.
Enquanto, por não ter sidi reconhecido, é convidado a aguardar a sua vez, tem ocasião de assitir emocionado ao desfile duma multidão de miseráveis, que vinham ali expor as suas dificuldades e pedir socorro e conselho, Interrogado finalmente sobre o motivo da sua presença, comunica então que acabava de rasgar um mandato de captura contra ele, mas vinha ali aconselhar-lhe que não voltasse a criar situações difíceis. Ao que a Irmã Rosália responde não poder prometê-lo, porque uma Filha de São Vicente de Paulo não tem o direito de faltar à caridade, quaisquer que sejam as consequências; mas promete-lhe também que, se ele alguma vez, perseguido, lhe pedir socorro, tudo fará para o salvar!
  Num desses frequentes e sangrentos tumultos, um oficial da Guarda, à frente da sua companhia, assalta a barricada que ficava mesmo junto à porta do Convento; mortos parte dos homens e postos em fuga os restantes, encontra-se só, e é feito prisioneiro pelos populares; mas encontrando aberta a porta, consegue entrar no Convento, onde é perseguido pelos amotinados, sedentos de sangue.
A Irmã Rosália barra-lhes a passagem, perguntando se teriam coragem de o matar ali, ao que respondem que o levarão primeiro para fora. Resolutamente a Irmã Rosália, faz-lhe frente; juntam-se-lhe outra Irmãs; porém a multidão sublevada, impacienta-se com aquela muralha de cornettes brancas;apontam-se espingardas, mas então a Irmã Rosália roja-se diante daqueles homens e suplica: «Há cinquenta anos que vos consagrei a minha vida; por tudo quanto fiz às vossas mulheres e aos vossos filhos, peço-vos a vida deste homem!»
  Os revoltosos foram debandando lentamente,alguns deles com as lágrimas nos olhos e então o oficial perguntou: «Quem sois?» - Quase nada, respondeu ela: «uma Filha da Caridade».
  Noutro dia correu pais sob o tiroteio, saltando de barricada em barricada, à procura do corpo dum oficial casado com uma sua amiga de infância; e doutra vez ainda atravessou entre os combatentes gritando: «Acham que posso viver enquanto os meus filhos se matam uns aos outros?» - «Vão matá-la, Irmã. Não atirem!» gritavam vozes aflitas. e a luta cessou naquele sector.
  Os episódios apontados põem em evidencia o extraordinário domínio imposto pela força da Caridade: deu-se inteiramente àquelas almas, cujos defeitos e vícios olhou com-passivamente e em favor das quais se multiplicou em socorros, benefícios e serviços de toda a ordem, arriscando a vida debaixo de fogo e também sob o contágio como, por exemplo, no combate à epidemia de cólera que dizimou o bairro de Saint Marceau, em que o grupo de Ozanam colaborou nos socorros por ela organizados. Tiveram então ocasião de observar como a desconfiança, com que a princípio eram recebidos, cedia lugar á maior franqueza - portas abertas, rostos desanuviados - desde que declaravam vir do mundo da Irmã Rosália.
  No dia em que morreu a Irmã Rosália - Legião de Honra, cantada em versos populares pelos pobres de Paris, que a amavam como à mãe - todo o bairro de Saint Marceau desfilou diante do seu corpo e acompanhou-a a enterrar. pais inteiro se comoveu e sacerdotes vindos de toda a França celebraram Missa junto do seu cadáver. A administração Municipal ergue-lhe um busto no átrio do seu palácio, busto que, vinte e quatro anos mais tarde, viria a ser ridiculamente apeado por uma vereação facciosamente anti-clerical, que o considerou como um desafio ao livre pensamento!
Que este pálido relato ajude a criar entre os vicentinos interesse pela figura da extraordinária heroína da Caridade que foi a Irmã Rosália, dispondo-os a imitar as suas sublimes virtudes e também a juntarem as suas orações para pedir a Deus que possamos, em breve tempo, ver sobre os altares mais uma santa da família de São Vicente de Paulo.             


Modelo Família Vicentina: - Santa Luísa de Marillac

Santa Luísa de Marillac
1591 - 1660

  Luísa nasceu em 12 de Agosto de 1591, hoje passados (424 anos), filha natural de Luís de Marillac, senhor de Ferrières, aparentado com a nobreza francesa, cujas posses permitiram dar à filha uma infância tranquila. A menina aos três anos foi para o Convento Real de Poissy, em Paris onde recebeu uma educação refinada, quer no plano espiritual, quer no humanístico.
  Porém, seu pai morreu quando ele tinha treze anos, sem deixar herança e, felizmente, nem dívidas.. Nessas circunstâncias Luísa foi tirada de Convento, pela tia Valença, pois os Marillac não se dispuseram custear mais sua formação. Ele desejava dedicar a sua vida a Deus, para cuidar dos pobres e doentes, mas agora com a escassez financeira teria de esperar para atingir esse objectivo.
Durante dois anos viveu numa casa simples de moças custeando-se com trabalhos feitos em domicílio, especialmente bordados Ela, tentou ingressar no mosteiro das capuchinhas das Filhas da Paixão que acabavam de chegar em Paris, mas foi rejeitada pela aprarência de saúde débil, imprópria para a vida de mosteiro. Depois disso viu-se constrangida a aceitar um casamento que os tios lhe arranjara. Foi com António de Gràs, que trabalhava como secretário da rainha. Com ele teve um filho, Miguel António. Viveu feliz, pois o marido a respeitava e amava a família. E se orgulhava da esposa que nas horas vagas cuidava dos deveres de piedade, mortificando-se com jejuns frequentes, visitando os pobres, os hospitais e os asilos confortando a todos com seu socorro. Até que ele própio foi acometido por grave e longa enfermidade e ela passou a se dedicar primeiro a ele sem abandonar os demais. Mas com isso novamente os problemas financeiros voltaram.
  Nesse período teve dois grandes conselheiros espirituais: Francisco de Sales e Vicente de Paulo, ambos depois declarados Santos pela Igreja. Foi graças á direcção deles, que pôde superar e enfrentar os problemas que agitavam o seu quotidiano e a sua alma. Somente sua fé a manteve firme e graças à sua força, suplantou as adversidades, até o marido falecer, em 1625 e Miguel António foi para o seminário.
  Só então Luísa pôde dedicar-se totalmente aos pobres, doentes e velhos. Isso ocorreu porque Vicente de Paulo teve a iluminação de colocar-la à frente das Confrarias de Caridade, as quais fundara para socorrer as paróquias da França e que vinham definhando. Vicente encarregou-se de visitá-las, reorganizá-las, enfim dinamizá-las e ela o fez durante anos.
Em 1634 Luísa, com ajuda e orientação de Vicente de Paulo, fundou a congregação das Damas da Caridade, inicialmente com três senhoras da sociedade, mas esse núcleo se tornaria depois uma Congregação de Irmãs. Isso o porque serviço que estas Damas prestavam aos pobres era limitado pelos seus deveres familiares e sociais e pela flata de hábito aos trabalhos humildes e fatigantes. Era necessário colocar junto delas, pessoas generosas, livres e totalmente consagradas a Deus e aos pobres. Mas na Igreja não existiam porque a vida de consagração para as mulheres estava concebida apenas como vida de clausura. Então, Vicente e Luísa, em 1642 ousaram e, criam as Irmãs dos Pobres, as Filhas da Caridade, a quem foram confiados os doentes, os enjeitados, os velhos, os mendigos, os soldados feridos e os condenados às prisões..
  Nascia um novo tipo de Irmã, com uma missão inédita para aqueles tempos: uma vida consagrada em dispersão pelos caminhos do sofrimento humano, assim estava criada a Consagração das Irmãs Filhas da Caridade, em 1642. Na qual Luísa fez os votos perpétuos, sendo consagrada pelo próprio Vicente de Paulo. A obra, sob a direção dela foi notável. Quando Paris assolada pela guerra e peste, em 1652, as Irmãs chegaram a atender quatorze mil pessoas, de todas as categorias sociais, sendo inclusive as primeira Irmãs a serem requisitadas para o atendimento dos soldado feridos, nos campos de batalhas.
  Luísa, morreu em 15 de Março de 1660. Foi beatificada em 1920 e canonizada pelo Papa Pio XI, em 1934. Suas relíquias repousam na Capela da Visitação da Casa matriz das Irmãs da Caridade, em Paris, França. Santa Luísa de Marillac, foi proclamada Padroeira das Obras Sociais e de todos os assitentes sociais, pelo Papa João XXIII, em 1960.